
Aprendi, ainda estudante secundarista lá no Recife, a desconfiar dos médicos, observando um colega de ‘república’ decorar aqueles enormes livros de medicina e declarar, com franqueza pedagógica da qual lhe sou grato, a sua real vocação: “ganhar dinheiro, muito dinheiro, dinheiro muito”. Talvez até hoje aqueles tenham sido os únicos livros que ele leu. Depois a vida me ensinou que ele não era exceção, mas a regra.
Há, portanto, médicos e “médicos” com aspas ou cifrões. Os desumanos e os humanos. E um dos critérios que ainda hoje uso para distinguir um do outro, já que ambos usam jalecos e estetoscópios, é o nível de leitura fora da literatura médica. Sabendo que este é um critério aplicado também para todas as outras profissões.
Essa cansativa introdução (e um pouco preconceituosa…reconheço) como você já percebeu pela foto, é para falar de Benício Cavalcanti, não só o médico, mas o homem que era um devorador de livros.
Não posso considerar que fui seu amigo, pois tanto ele sabia, como eu sei, o que é uma amizade. Nem fui seu paciente. Mas compartilhei com ele, quase sempre em ocasionais encontros no Shopping Boulevard/Feira, o prazer de conversar sobre livros, sobre o prazer solitário da leitura, sobre os mais diversos assuntos e temas que os livros nos trazem. E isso me faz crer que estava ali diante de um verdadeiro médico.
Esse é o meu testemunho em sua homenagem.
P.S: essa foto é do arquivo do Blog da Feira e foi tirada por Orisa Gomes em uma ExpoFeira.