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Daniel Rego
sexta-feira, 13 de novembro de 2020 / Publicado em Cidade, Colunistas, Eleições 2020, Home, Política

A Feira entre ato e potência de bem-viver

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Dois dias até a eleição

Em um ano singular, o evento político pivô de 2020, as eleições municipais, parece ter sido relegado ao segundo plano. Tudo o ofuscou: o pleito americano — que assumiu (nos dois lados) ares de luta civilizatória —, as disparadas dos que ocupam o planalto, a segunda onda da malaise, o novo sistema de transferência de valores… Várias causas são apontadas: os exíguos 45 dias de campanha, a diminuição do financiamento, as restrições do distanciamento, a inexistência dos cavaletes.

Confesso que minha posição de “feirense emigrado”, que buscou refúgio em sua terra natal durante o caos global, me manteve mais ainda distante de um pleito no qual sequer voto. Sou lembrado dele apenas nas poucas vezes que saio à rua e cruzo com os carros plotados, ou quando me deparo com um fato político em destaque no Blog da Feira — até mesmo eles estão minguados nos jornais.

Fui convidado por um amigo para acompanhar o derradeiro ato da campanha de Jhonatas Monteiro, o rasta.  Foi um bate papo virtual. Candidato a prefeito duas vezes, Monteiro é a principal aposta do PSOL de Feira: o partido investiu mais na candidatura dele à vereança do que na de prefeita de Marcela Prest. O conhecia apenas de nome e reputação — foi ele, aliás, quem infligiu a humilhação devastadora ao ex-prefeito Tarcísio Pimenta, derrotado “até pelo candidato do PSOL” em sua tentativa desastrosa de reeleição. (Em todo caso, vale lembrar ao ex-prefeito o destino inexorável do Fausto da literatura alemã…).

Jhonatas está bastante confiante; obteve bons resultados em 2018, sendo suplente do deputado estadual Hilton Coelho. Fez questão de remover o “elefante” da viabilidade logo de início: aposta não apenas que o partido deverá atingir o quociente, mas tem, em último caso, esperança na distribuição das vagas remanescentes.

A Feira que temos

Monteiro não é econômico nas palavras. Sua titulação acadêmica — é mestre e doutorando em história — e experiência de lutas políticas formaram alguém que angaria referências como o antropólogo francês Marc Augé e o líder assassinado George Américo com a mesma facilidade que discorre sobre as muitas lagoas da Feira. Não poupou críticas ao ‘continuísmo’, a quem acusou de sequer cumprir as próprias leis, e ao legislativo municipal, que se mostra demasiado protocolar e pouco combativo.

Combatividade, aliás, é um objetivo declarado da candidatura. Criticou também a maneira como as eleições vem sendo conduzidas: seriam mais justas “se as outras candidaturas também cumprissem as regras contra aglomerações”. A recente decisão do TRE baiano de limitar atos presenciais de campanha foi devastadora para uma estratégia que se baseia no corpo a corpo e na panfletagem, sem carreatas (uma posição política do candidato) e com parcos recursos financeiros. “Muito problemática [a atuação do TRE]”, classifica.

Jhonatas fala muito de dados. Critica diversas vezes a ineficiência do poder municipal em disponibilizar informações, a falta de transparência dos atos públicos e o pouco interesse de setores do continuísmo e seus aliados em entender a cidade a sério. Lamenta também a distância que a Universidade ainda tem da realidade feirense, apesar de reconhecer que este é um padrão em todo o país. Suas propostas dependem intrinsicamente de saber sobre a Feira: Monteiro discorreu sobre o planejamento do transporte urbano a partir dos dados populacionais, de estudos sobre os recursos ambientais da cidade, da compilação de um calendário cultural popular e abrangente.

Seu possível mandato promete ser incisivo na cobrança do executivo e eficiente na mobilização dos diversos setores interessados em entender a Feira e mudá-la.

A Feira do bem-viver

Mas qual é a Feira de Jhonatas Monteiro? O historiador faz mais uma vez uso do seu repertório para esboçar uma ‘teoria’: classifica a situação política da cidade como “potencial negado”. A Feira, em suas próprias palavras, poderia ser o espaço do “bem-viver”, com sua riqueza hidrográfica, cultural e histórica convivendo em uma perspectiva popular de município. É, porém, uma cidade para a qual é negada a própria memória (ao menos aquela não narrada pela perspectiva oficialesca dominante).

A Feira-Livre, que em sua visão deveria ser reconhecida como patrimônio imaterial da cidade, vem sendo sistematicamente destruída. A Feira onde se vive bem, para Monteiro, rejeita categoricamente a visão de organização que ele classifica como de “classe média”. O alardeado ‘novo centro’ é, para o psolista, uma estratégia continuísta para “reconquistar o apoio do empresariado comercial” da cidade. O sentido de pertencimento de uma das poucas cidades brasileiras que ostenta a Feira no próprio nome é negado a partir de um processo histórico de “modernização conservadora, antipopular e destrutiva para os direitos sociais”.

Jhonatas comentou sobre a possibilidade ‘inédita’ de um segundo turno na Feira que tem dono: “um segundo turno é importante para provocar desorganização da política estabelecida do município”, mostrando fraturas no poder de um grupo político que “tem tanta confiança [na sua hegemonia] que sequer cumpre suas próprias leis”. Evitou, contudo, explicitar qual seria o posicionamento de seu partido na provável disputa.

Entre a política e a antipolítica

Estão espalhadas por esta coluna (na qual escrevo com menos regularidade e assiduidade do que deveria) pistas do que é minha concepção (sempre provisória) da natureza da política. Um elemento que penso ser determinante é a ação, aqui em seu sentido amplo. Agir é realizar atos e proferir discursos, que por si próprio também se configuram atos. A política é o espaço entre o conflito total (que não é político, pois não há ação na violência absoluta) e o entendimento total (que é ainda mais ‘impolítica’, pois equivale à negação da pluralidade). Conflito e entendimento são, portanto, elementos indissociáveis do ser-política e possibilitam a existência singular do humano, esse animal-potencial, que é muito mais na medida em que pode vir-a-ser.

Mas não pretendo hoje teorizar muito mais sobre o que reputo ser a maior riqueza de nossa espécie. Quero apenas lembrar — a mim e talvez ao leitor — o quanto somos ato e potência. A “antipolítica” (um oximoro) se apoderou de nossa era; seu objetivo: negar que o ser-humano é a causa eficiente de sua existência em conjunto. Precisamos mais do que nunca resgatar os sentidos da política, dessa capacidade tão fértil, tão rica, tão humana.

Hoje, a dois dias das eleições municipais, penso menos em quão imperfeito nosso sistema representativo é, em quão pouco porosa nossa esfera pública se mostra, em quão frustrados a antipolítica nos tornou. Não, não quero pensar em nada disso. Penso na ação, penso na utopia, penso na potência. Penso na Feira do bem-viver.

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Internacionalista e mestre em Ciência Política.
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