O caminhão de Buá do Candeal trazia a mercadoria da Feira de Santana para o Barracão de Seu Joaquim, instalado perto da obra e dos barracões de pindoba onde moravam “os garimpeiros” que chegavam de todos os lugares do Brasil.
As “Casas de Turma” construídas pela empresa ferroviária da época (que falaremos e mostraremos com detalhes nos próximos folhetins) , não davam conta de tanta gente. Houve um tempo, em que haviam cerca de 200 homens trabalhando no trecho
O Barracão era o armazém de fornecimento de víveres para os trabalhadores. O básico, arroz, feijão e carne de sol. Muita carne de sol.
Quando um primo do jovem Pedro de Souza Estrela (Pedro de Santo) o indicou para trabalhar no Barracão, a tarefa dele foi comprar gado gordo para o abate, transformando em carne-de-sol para o consumo dos “garimpeiros”. Naquele tempo, um boi de 12 arrobas, abatido pelo magarefe Rufino de Roseno.
Circulou mais dinheiro no vale do Pojuca. De uma só vez, que ele se lembra, nos idos de 1953, 54 talvez, uma carga do caminhão de Buá custou mais de 400 mil réis. Domingos Nunes, disse lá em Zé Beiçola que até o “boró”, um vale em papel moeda de Belém do Pará, serviu para trabalhador comprar melancia a um produtor da beira do rio.
Hoje grande trecho da estrada por onde passou o caminhão de Buá, há cerca de 70 anos atrás, utiliza as banquetas ou “bancas” e “cortes” da ferrovia que se estenderia até à Estação Nova na atual avenida João Durval Carneiro.
Muitas dessas marcas visíveis da ferrovia estão ocultas por uma mata, quase sempre dentro de propriedades particulares, quando não estão sendo utilizadas como estrada pública. Com um pouco de paciência, é fácil até localizá-las pelo Google.
A ‘Banca da Mantiba”, a “Banca do Cemitério” (onde hoje está a avenida Airton Sena), a “Banca do Candeal”. todas foram obras da ferrovia que ligaria Feira de Santana à antiga ferrovia Salvador-Senhor do Bonfim – Juazeiro. Quanta gente não já passou por ali sabendo só da Estação Nova?
Por muitas razões, políticas, econômica e sociais, acadêmicas também, a história desse ramal ficou no esquecimento ou foi deturpada por versões ideais ou superficiais.
A Estação Nova, que faz parte desse projeto que remonta a mais de século, construída na década de 50, nunca funcionou e praticamente entrou no folclore até se tornar um prédio comercial que é hoje. Ficou apenas na história comum que a Estação havia sido construída para substituir a que seria extinta completamente, a do ramal de Cachoeira e Chapada Diamantina.
A construção da ponte da Matinha, a última ação significativa do projeto do ramal da Salvador-Rio São Francisco, por volta do final da década de 50 e início de 60, não impactou a sociedade. Pelo menos a sociedade urbana feirense daquele tempo. Não conseguimos, espero que ainda, com a ajuda do jornalista Marcondes Araújo, identificar alguma nota no notável Folha do Norte sobre esse assunto. Nem sobre o começo, nem meio, nem o fim da obra da ponte ou da ferrovia por essas bandas. Mas, como você já viu, essa não é a única fonte do que nos utilizamos para contar um pouco dessa história.
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Confira a série completa: O trem que nunca chegou na Feira
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