
Bem que podia ser o título de uma boa crônica. Ou de um quadrinho do divertidíssimo capitão Haddock revirando bancas de tomate em uma heroica perseguição. Quem sabe até poderia falar das aventuras do capitão Kirk se escondendo dos vilões em um planeta exótico, num mercado lotado de alienígenas verdes e azuis comprando beterrabas amarelas. Mas já é evidente que não escrevo uma bela estória com final cômico e feliz (aliás, nem bom ficcionista sou). Antes fosse a vida só diversão e arte!
O Capitão ou, como prefere André Pomponet, o mito, esteve hoje na Feira de Santana. Veio inaugurar obra incompleta, em um paralelo nada divertido com o seu governo. Mas não se deteve por aí. Acuado com a CPI, que se inicia amanhã (27), disparou ataques e repetiu velhos chavões. Reiterou que os governadores estão “esticando a corda” e ameaçou novamente usar as forças armadas. Aproveitou, é claro, para passar no 35 BI e tirar fotos. Mais do mesmo. Ofereceu elogios aos políticos presentes, dentre o prefeito Colbert Filho, seu ex-colega na Câmara dos Deputados.
Também hoje, o general da ex-ministro da saúde foi flagrado sem máscara em um shopping em Manaus, capital que mais sofreu com sua negligência. Ao ser confrontado, riu. [O que contém essa risada? Dor não há. Compaixão não se deixa transparecer. Cinismo? Orgulho? Medo?]
A visita do Capitão fez manchetes nos veículos nacionais. Clamou por uma “nova independência”, talvez para proclamar a república do Bolsolavistão. Nesse ente onírico do mandatário, a constituição é ELE, o exército é dELE, o populus clama por ELE. Transfigurado em figura mitológica, o Messias capitaneia seu povo, milicianos armado até os dentes, em direção à contaminação. Se uns 300 ou 400 mil morrerem, tudo bem, “tudo quanto é guerra morre inocente”.
Mas o Capitão acorda. Olha para o lado e está lá, linda como sempre, sua maior companheira a pistola. “Ainda bem”, pensou, “os comunistas não conseguiram roubá-la de mim. Não desta vez. Esses malditos, querem minha hemorroida!”. Veste seu paletó, por cima do colete de kevlar, e parte para a Guerra. Santa, é claro, como todas as cruzadas o são. Santificada por seu próprio nome. Em sua dialética nefasta, pretende realizar o espírito pela morte. Parte para a Feira. E pensa novamente em sua república. Alias, não mais pública, res familiae.
Vacinas? Máscaras? Distanciamento social? Não! Logros. Mitos. Heresias comunistas proibidas sob seu domínio. E dorme o Capitão. Mais 3 mil mortes no currículo. “Grande dia!”
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