O dia amanhece mais cedo na zona rural de Feira de Santana, são oito distritos e milhares de pessoas que necessitam se deslocar diariamente a sede do município para estudar, trabalhar, cuidar da saúde e demais demandas de serviços públicos e privados. Quando você leitor, tem uma televisão com defeito, pede um carro com aplicativo e chega ao destino de uma assistência técnica. Agora imagine você um morador de Jaguara, pare e reflita no desespero que deve ser. Você leitor a noite marca com uns amigos para dar um rolê ou um happy hour na casa de uma amiga, o morador de Tiquaruçu não pode, pois, a noite não tem transporte público. Vivem isolados e imagem que passa nos finais de semana, que a sociedade vive enclausurada. Ah se não fosse a alegria brasileira a pulsar nas veias daqueles moradores que acabam desenvolvendo meios de lazer, tal como o samba das quixabeiras, ritmo musical forte e preponderante na Matinha e na Lagoa da Camisa. Sua fama ultrapassa fronteiras.
Mas poderia ser melhor. Existem hoje na Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito, 107 veículos permissionários para operar nos distritos. Se o órgão gestor arrumar direitinho se consegue ofertar um serviço de qualidade, basta o secretário e o prefeito ouvirem os técnicos do setor, eles têm muita competência e acumulam conhecimento por demais, enfim a decisão de melhorar a vida das pessoas na zona rural não depende de decisão técnica, ela já existe falta decisão política.
Uma pergunta se impõe, as 107 vans fazem o serviço regular de transporte de pessoas? Acho muito difícil, pois é raro não ter reclamações dos moradores sobre a deficiência do serviço prestado, mas não basta chegar aqui e criticar, tem de se propor a solução, pois a intenção deste texto não é ser oposição, mas como técnico do setor, filho desta cidade, o objetivo é contribuir para melhoria desta cidade e um transporte público eficiente com cobertura e frequência é o desejado. Cobertura de área municipal, não deixando população desassistida, infelizmente é o que tem acontecido com a população dos distritos. A produção da agricultura familiar fica entregue a sanha dos especuladores e a renda gerada mal dá para o sustento, é preciso criar uma logística eficiente de fazer a produção de alimentos chegar nas feiras livres e ser comercializada pelos produtores. A feirinha de Saberes e sabores da UEFS, realizadas as quintas feiras tem sido um sucesso, primeiro ela mensal e hoje semanal. Fiz um teste hoje quando fui comprar canjica. Saquei no banco uma cédula de R$100,00 e paguei R$14,00, duas canjicas e um pacote de beiju misto. Pois a vendedora com seus dedos calejados da labuta, me deu o troco rapidamente, as coisas estão fluindo e não existe atravessador, coisa que a prefeitura precisa fazer urgente. Não é possível que um litro de Castanha torrada saia da Matinha por R$4,50 e chega à Feira da Estação Nova por R$30,00. Uma prefeitura precisa cuidar de sua gente, pois a gente dispensa uma guarda municipal apenas para espancar professores.
Voltando as 107 vans permissionárias, bastava deslocar dois servidores para por amostragem, verificar diariamente o disco do tacógrafo e cruzar as informações de itinerário autorizado, velocidade, paradas, etc. Uma verificação regular com dois funcionários, poderia facilmente cobrir a frota de vans em uma semana. Em pouco tempo, elas estariam operando ou entregando as vagas se não forem viáveis. Mas o que seria a viabilidade? Existe uma taxa de lucro entre aqueles operadores, o que se chama de prêmio ao risco, ou seja, só vou na boa, caso contrario deixo meu carro na garagem. Puxa, não é assim que se deve proceder, pois carro na garagem é a população distrital isolada sem poder se deslocar. Nunca é demais lembrar que Transporte Público é um direito social consagrado na Constituição Federal tal qual saúde, educação e segurança pública. Se o indivíduo não quer operar a linha entregue a prefeitura, se a fiscalização dos tacógrafos flagrar o abandono das linhas que se cassem as permissões dos infratores, pois concessão e permissão são contratos com a Administração Pública, onde o particular atua por sua conta e risco.
Concluindo, a prefeitura precisa responder aos anseios da população por um transporte eficiente, pois caro ele já é em sua essência.